9 de fevereiro de 2013


O CAVALO

 

Buenas, meus queridos amigos! É com muito prazer que volto a escrever-lhes em meu espaço mensal aqui no Blog da Escola de Equitação Vida a Cavalo.

E, neste mês, é justamente acerca do nosso amigo cavalo que eu gostaria de discorrer um pouco e compartilhar aqui com vocês. Em meio às minhas leituras aqui, deparei-me com as palavras do naturalista, matemático e escritor francês Georges-Louis Leclerc, mais conhecido como conde de Buffon, que viveu entre 1707 e 1788. Compartilho aqui com vocês tais palavras:

O cavalo

            “A mais nobre conquista do homem é o cavalo, animal generoso e garboso, que compartilha com ele os riscos da guerra e a glória das batalhas. Afronta intrépido os perigos, acostuma-se ao barulho das armas e anima-se paralelamente ao guerreiro que o guia. Animal tão dócil como enérgico, não se deixa levar pelo seu ardor; sabe reprimir seus movimentos, obedece à mão de quem o governa e até adivinha os seus desejos; cedendo com precisão admirável aos impulsos que recebe, precipita-se, acalma-se ou para e não dá um passo que não seja para satisfazer os referidos impulsos; é um animal que renuncia ao seu próprio ser; não vive mais senão para satisfazer a vontade do seu dono e até prever essa vontade, expressando-a com a rapidez e precisão de seus movimentos. Compreende o que dele se solicita e nunca se excede ao realizar o que se lhe ordena; abandonado sem reservas, nada reclama e no cumprimento de seu dever emprega todas as suas energias até esgotá-las e, se for preciso, sabe morrer para obedecer melhor”. (Buffon)

            Dentre tantos aspectos que podemos debater acerca deste texto, escrito no século XVIII, percebemos, primeiramente, o quanto a parceria homem-cavalo já estava consolidada neste período, especialmente na Europa. Porém, mesmo considerando que o texto foi escrito há muito tempo, e que, em decorrência, expressa o entendimento que se tinha na época acerca da relação homem-cavalo, algo segue em comum até hoje: estabelecer uma relação saudável, positiva e clara com um cavalo, foi, é e seguirá sendo uma conquista e tanto para um ser humano. Isto porque, como diz nossa sábia médica veterinária Denise Bicca Fernandes, ao envolvermo-nos com um cavalo, tornamo-nos seres humanos melhores, encontramos significado maior na vida e, ainda, fazemos do mundo um lugar melhor (FERNANDES, 2009b).

            Contudo, algo expresso no texto de Buffon e que, atualmente, já superamos, é a noção de que a associação do cavalo ao ser humano deva existir dentro dos limites da obediência. Ao contrário, hoje, já temos consciência, conhecimento e sensibilidade suficientes para saber que a agregação do cavalo conosco deve ocorrer por vontade livre dele, na qual o desempenho do cavalo pode crescer até seu potencial máximo (FERNANDES, 2009a).

Ao referir-se a “adivinhar os desejos de seu dono”, “precisão dos impulsos”, provavelmente, Buffon está considerando a percepção aguçada que os cavalos possuem, uma vez que são animais de fuga. Cavalos são tão sensitivos que podem detectar alterações proprioceptivas (de equilíbrio) que um cavaleiro faz inconscientemente, apenas por modificar o foco visual, mesmo que este não faça movimentos conscientes. Daí, possivelmente, a sensação de que nosso cavalo está “adivinhando” a nossa próxima intenção de movimento, quando, na verdade, trata-se de sua sensibilidade extremamente aguçada.

É também graças a outra característica do cavalo que conseguimos tê-lo como aliado em tantas e diversas atividades: seu aprendizado veloz. Uma presa, em seu estado natural, como é o cavalo, precisa aprender rapidamente a distinguir do que deve fugir e do que não precisa fugir, a fim de economizar energia para quando o perigo realmente estiver por perto. Assim, dentre os animais domésticos, é aquele que aprende mais rápido (FERNANDES, 2009). Somente desta forma é que é possível explicar sua capacidade, por exemplo, de acompanhar os homens nas guerras e batalhas, de que fala o texto de Buffon. Ao aprender o que se espera dele em um ambiente hostil destes, bem como, o que lhe causa perigo e o que não lhe causa temor, o cavalo conseguia enfrentar tais desafios, assim como atualmente, compor parte das atividades das polícias montadas.

Ainda em tempo, em seu texto, o autor francês ainda deixa clara uma compreensão da qual devemos lembrar sempre ao estarmos próximos de um cavalo e observarmos suas ações: o cavalo possui uma capacidade enorme de perdoar, de tentar entender o que querem que ele faça/não faça, enfim, o que esperam dele, mesmo sem, muitas vezes, minimamente tentarem entender e expressar na sua linguagem, que é a linguagem corporal, a qual Monty Roberts, conhecido como o “encantador de cavalos”, batizou de Equus (ROBERTS, 2003).

Portanto, seja no século XVIII ou no século XXI, algo há em comum: ainda temos muito que aprender com esses nossos amigos de crinas e caudas...

Poderíamos seguir aqui discutindo muito ainda sobre a riqueza deste texto de tanto tempo atrás e de tudo que ainda persiste e daquilo que o ser humano, mesmo que paulatinamente, já conseguiu atualizar-se e compreender melhor. O que segue nos motivando é que ainda há muito que aprender quando se fala em... cavalo...

Qualquer sugestão, crítica, troca de informações e opiniões, é só escrever! Deixo aqui meu e-mail para quem quiser entrar em contato: ester_lp@yahoo.com.br

Espero que tenham tido um bom momento ao realizar esta leitura! Até o mês que vem! Desejo muito pé no estribo a todos!

 

Referências:

 

          FERNANDES, Denise Bicca. Apostila Curso Gallop Natural Horsemanship. Porto Alegre, CD-ROM, 2009a.

 

          FERNANDES, Denise Bicca. Comunicação = avenida de duas mãos. 2009b. Disponível em: http://www.horsemanship.com.br/index.php. Acesso em: 21 jun. 2010.

 

          ROBERTS, Monty. O homem que ouve cavalos. Tradução de Fausto Wolff; revisão técnica, Laura Rossetti Barretto Ribeiro. – 5ª ed. – Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 350 p., 2003.

 

Ester Liberato Pereira
Instrutora de Equitação formada pela Universidade do Cavalo (UC)

Professora de Educação Física CREF 014183 – G/RS – Integrante equipe Centro de Equoterapia Cavalo Amigo – www.cavaloamigo.com.br
Especialista em Equoterapia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) /Curitiba
Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS)

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Bolsista CAPES
Membro do Núcleo de Estudos em História do Esporte e da Educação Física (NEHME) da ESEF/UFRGS - http://www.ufrgs.br/nehme/ 

 

Vagalume e Ester (Acervo Pessoal )

 

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