10 de janeiro de 2013


UMA PRÁTICA CULTURAL-ESPORTIVA SUL-RIO-GRANDENSE

 

Convido-os a iniciar nosso percurso de trocas de conhecimentos, informações, ideias, experiências e opiniões trazendo à tona uma das primeiras manifestações de práticas equestres com elementos de esportivização em nosso Estado: as corridas de cavalos em cancha reta, ou carreiras de cancha reta, como ficaram mais conhecidas. Apesar de esta prática constituir, durante muito tempo, o jogo preferencial dos homens que viviam nos campos gaúchos, ocorria também em nossa capital do Rio Grande do Sul: Porto Alegre. Segundo Golin (2004, p. 82), tais disputas faziam parte de negócios que envolviam significativos montantes em dinheiro e, simultaneamente, das brincadeiras típicas regionais do Rio Grande do Sul.

Já Rozano e Fonseca (2005, p. 34) acrescentam à definição para carreiras de cancha reta o fato de estas ocorrerem em pistas retas, sob a medida de quadras, em cancha capinada, ou seja, num solo sem vegetação. Ainda de acordo com os autores, tais disputas se configuraram como a forma de lazer mais bem-reconhecida que o Rio Grande do Sul possuiu durante muito tempo, encontrando seus principais fatores de sucesso nas numerosas apostas e no massivo público que as prestigiava. A apreciação do gaúcho pelo cavalo remonta à formação do Rio Grande do Sul enquanto Estado, encontrando-se este admirável animal sempre em cumplicidade com o homem, em tempos de guerra ou de paz (DREYS, 1990, p. 123).

Caracterizado como arrojado e amante do jogo e da bebida, o gaúcho “faz uma espécie de simbiose com o cavalo com o qual se desloca pelo pampa, com velocidade e destreza” (PESAVENTO, 2003, p. 213). Neste sentido, Rozano e Fonseca (2005, p. 34) atentam para o fato de que o cavalo já estava presente nos campos gaúchos desde o ano de 1737, ou seja, antes mesmo da fundação oficial da primeira povoação portuguesa na capitania do Sul. Importa destacar ainda que a definição desse território de fronteiras como propriedade brasileira está relacionada ao fato de que homens, montados a cavalo, ocuparam e defenderam tal espaço ao longo de muitas batalhas.

Destarte, o cavalo fez parte da história do Rio Grande do Sul durante suas diversas fases de ocupação, colonização e crescimento econômico. Já nos tempos de paz, as cavalhadas e corridas de cavalo se transformavam em oportunidades de diversão e entretenimento dos gaúchos. Atualmente, a quantidade de canchas de carreira diminuiu significativamente, restando destas alguns poucos exemplares localizados em determinadas cidades do Interior do Estado, como Bagé e Carazinho, por exemplo.

Durante todo o século XIX, o que predominara em termos de práticas entre os porto-alegrenses foram atividades lúdicas em recinto fechado: o teatro, a música, o baile, o recitativo, os bilhares e a antiga paixão ibérica do carteado. A população da pequena cidade de Porto Alegre, limitada por morros e por ruas estreitas, restringia-se a divertimentos urbanos, permanecendo a maior parte do tempo no interior de suas casas. A exceção ficava por conta dos imigrantes alemães e de seus descendentes, que se mostravam afeitos à ginástica e ao tiro ao alvo, e, posteriormente, ao remo. De meados do século XIX até a virada para o século XX, no que se refere ao lazer e às diversões ao ar livre, só há registros da presença do antigo costume gaúcho das carreiras de cancha reta. Tal forma de manifestação esportiva é, assim, condizente com a estrutura rural predominante da cidade, como anteriormente exposto a partir das ideias de Rozano e Fonseca (2005, p. 17).

Posteriormente, mais ao final do século XIX, mesmo atravessado pelos impulsos do desenvolvimento e pelas melhorias urbanas, buscava-se, neste cenário, uma maneira de conciliar a antiga paixão dos gaúchos: as corridas de cavalo. Rozano e Fonseca (2005, p. 36) referem que antes mesmo da inauguração do primeiro prado em Porto Alegre, muitas disputas ocorriam em trechos de estradas que davam acesso à cidade, ou seja, nas periferias ou mesmo em alguma várzea.

Bom, esta foi uma breve síntese de tudo o que se pode discutir acerca deste tema. Qualquer sugestão, crítica, troca de informações e opiniões, é só escrever! Deixo aqui meu e-mail para quem quiser entrar em contato: ester_lp@yahoo.com.br

Espero que tenham gostado da leitura! Até o mês que vem! Boas cavalgadas a todos!

 

Referências:

 

DREYS, N. Notícia descritiva da Província de São Pedro do Sul. Porto Alegre: Nova Dimensão, 1990.

 

GOLIN, T. O povo do pampa: uma história de 12 mil anos do Rio Grande do Sul para adolescentes e outras idades. 3. ed. Passo Fundo: Ed. da UPF, 2004.

 

PEREIRA, Ester Liberato. As práticas equestres em Porto Alegre: percorrendo o processo da esportivização. -- 2012. 156 f. Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Porto Alegre, BR-RS, 2012. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/56768/000861427.pdf?sequence=1>

 

PEREIRA, Ester; LYRA, Vanessa; MAZO, Janice. Corridas de cavalo em cancha reta em Porto Alegre (1852/1877): uma prática cultural-esportiva sul-rio-grandense. In: Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v.21, n.4, 2010. Disponível em: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/viewFile/8164/6770>

 

PESAVENTO, S. J. (Org.). História cultural: experiências de pesquisa. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2003.

 

ROZANO, M.; FONSECA, R. (Org.). História de Porto Alegre: Jockey Club. Porto Alegre: Nova Prova, 2005.

 

Ester Liberato Pereira
Instrutora de Equitação formada pela Universidade do Cavalo (UC)

Professora de Educação Física CREF 014183 – G/RS – Integrante equipe Centro de Equoterapia Cavalo Amigo – www.cavaloamigo.com.br
Especialista em Equoterapia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) /Curitiba
Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS)

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Bolsista CAPES
Membro do Núcleo de Estudos em História do Esporte e da Educação Física (NEHME) da ESEF/UFRGS - http://www.ufrgs.br/nehme/ 

Pipoca, grande favorita da tarde, ganhou com grande clarão... (Revista do Globo, n. 413, p. 29, 22/06/1946)

 

RECONHECENDO UM PERCURSO

 

            Olá amigos e amigas da Escola de Equitação “Vida a Cavalo”! É com muito prazer que recebi e aceitei o convite dos meus amigos Upi, Alex e Otávio para compartilhar aqui com vocês, a partir deste ano, mensalmente, textos que envolvam nossos amigos cavalos.

            Tive a honra de conhecer os 3 (o Otávio ainda na barriguinha de sua mãe) ao sermos colegas da primeira edição do Curso de Formação de Instrutores de Equitação da Universidade do Cavalo (UC), em Sorocaba (SP), em fevereiro de 2011. A partir de então, identificamo-nos não somente como sul-rio-grandenses e gaúchos, mas também como amigos.

            Portanto, por meio deste espaço, vislumbro poder contribuir com todos vocês para compartilharmos conhecimentos e experiências relacionados aos nossos queridos amigos de quatro cascos. Desta forma, penso que, assim como devemos reconhecer nosso percurso antes de adentrarmos uma pista, devo apresentar-me, mesmo que brevemente, a todos vocês.  

            O ponto de partida do meu percurso inicia, aproximadamente, aos 8 anos de idade, quando tive minha primeira aula de equitação em Porto Alegre. De aí em diante, foram competições, alegrias, dificuldades, aprendizagem, enfim, tudo aquilo que só a prática de um esporte, aliada à convivência com um cavalo, pode proporcionar à formação pessoal de alguém. Tudo isto só contribuiu para a minha opção pela carreira de Professora de Educação Física, para a qual busquei minha formação na Escola de Educação Física da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

            Durante o curso, conheci a Equoterapia, onde descobri mais um espaço e uma oportunidade para aliar duas paixões: os cavalos e a Educação Física. A partir daí, fiz os cursos da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL) e realizei estágios voluntários na Argentina e no Brasil. Hoje, sou Equoterapeuta feliz e realizada no Centro de Equoterapia Cavalo Amigo, na Sociedade Hípica Porto Alegrense, há 3 anos.

            Para concluir minha graduação, meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) versou sobre aspectos históricos da prática do turfe em Porto Alegre. E é nesta área da História das Práticas Equestres em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul que dissertei durante o mestrado (http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/56768/000861427.pdf?sequence=1) e agora também escreverei durante o doutorado, o maior dos obstáculos a enfrentar até então em meu percurso.

            E, ainda em meio a este trajeto, não poderia deixar de me dedicar a conhecer, cada vez mais, acerca do motivo principal de nossas atividades: o cavalo. Assim, fiz cursos sobre “Horsemanship”, maneira pela qual sinto ser mais simples nossa comunicação com nosso companheiro de jornada. Da mesma forma, busquei o curso na Universidade do Cavalo, acerca da formação do profissional de equitação, o qual apresentou um programa muito inovador e importante para o mercado equestre. Um dos aspectos mais interessantes e enriquecedores do curso foi a abertura para todas as modalidades, possibilitando um intercâmbio de conhecimentos e identificações de pontos em comum entre todas. A formação do instrutor de equitação no Brasil também foi bastante discutida durante o curso.

            De tal modo, está aberta a porteira da pista... Convido-os a percorrer comigo cada lance de galope, de obstáculo a obstáculo, trocando ideias e impressões a cada novo texto aqui compartilhado. Afinal, também por isso nos encantamos pelo mundo do cavalo... porque sempre há algo mais a aprender a cada pé esquerdo encaixado em um estribo...

Ester Liberato Pereira
Instrutora de Equitação formada pela Universidade do Cavalo (UC)

Professora de Educação Física CREF 014183 – G/RS – Integrante equipe Centro de Equoterapia Cavalo Amigo – www.cavaloamigo.com.br
Especialista em Equoterapia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)/Curitiba
Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS)

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH) da Escola de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Bolsista CAPES
Membro do Núcleo de Estudos em História do Esporte e da Educação Física (NEHME) da ESEF/UFRGS - http://www.ufrgs.br/nehme/                                                                                                                                                             



  Ester e Galante (Acervo Pessoal)